Uma dedicatória à Língua Portuguesa

“Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo”.
Clarice Lispector

Há uma estimativa de que existam mais de 7 mil línguas no mundo inteiro e me “calhou” falar português. Não é totalmente um português de Portugal nem totalmente brasileiro, mas é esta língua portuguesa que vive nas “entranhas” da minha Alma e que pulsa mesmo no silêncio. É como se antes de nascer, ainda lá nos planos etéricos meu silêncio vibrasse nessa nota e sem que eu me desse conta precisei sair das terras lusitanas para compreender o quanto ela está em mim.

Quando há o esforço para falar um idioma diferente, surge uma preguiça mental quase que imposta pelo meu inconsiente para não esforçar tanto por este caminho, mostrando o fluir muito mais harmônico e tranquilo quando os sons se juntam para soltar uma palavra em português. Não há aquele “chiado” de Portugal e nem mesmo o gerúndio excessivo brasileiro, mas há sim uma verdadeira alegria em perceber as palavras se encontrando exatamente onde deve estar, na Língua Portuguesa.

Tantos são os poetas, escritores e artistas a falar desde idioma e por tanto tempo nunca me atentei o quanto sempre estive tão conectada a ela, só que de maneira despretensiosa, sem jamais querer fazer das palavras algo que não seja simplesmente verbalizá-las. Nos tempos de período escolar estava sempre a folhear livros de literatura portuguesa e as poesias sempre acessavam meu coração de maneira curiosa e ao mesmo tempo natural. Enquanto os amigos saíam para se distrair na hora do intervalo entre as aulas, eu ficava no banco a folhear as poesias, as imagens e histórias dos poetas, os “contos” e as combinações das estrofes que ainda não se encaixavam em minha mente.

Sem fazer muito sentido me formei comunicadora e num “piscar de olhos” as palavras e este idioma foi a matéria-prima de meu trabalho como jornalista, que durou dez anos ininterruptos. Será que foi meu espírito que elegeu a Lingua Portuguesa ou foi a Língua Portuguesa que me escolheu? Por que tanta falta de vontade de verbalizar outros dialatetos, outros idiomas, outras formas de se expressar pelo verbo? Por que ela vibra tão fortemente em meu coração pedindo uma atenção especial como um convite a dizer: “Não esqueça que sou parte de você!”

Então, viajando e vivendo num país de língua diferente, a própria Vida me trouxe alunos curiosos para aprender a Língua Portuguesa. Empolgados e curiosos eles pedem para sentir o sotaque, para ouvir o samba, para conhecer a cultura, para saber dos poetas. E então quando me volto para escutá-la com mais presença outra vez e ao preparar aulas e conectar temas com os interesses dos alunos, volto ao mundo interno de onde encontro a casa que me habita. Ali não sou estrangeira, nem mesmo desconhecida. Neste mundo o tempo pára, as vozes silenciam, a alegria resurge e o consciente traz de volta uma informação que por algum tempo havia me esquecido: como é bom pensar, falar, sentir e vibrar na língua portuguesa.

Que a beleza de todos os idiomas possam se manter por meio da construção de palavras ditas de maneira presente, vagarosa, atenta e cuidadosa. Que possamos manter a pureza dos que se esforçaram para colaborar com a riqueza cultural de cada nação e que a Língua Portuguesa possa seguir conectando e espalhando tanta admiração, curiosidade e interesse para sempre somar com outras nações, línguas e culturas numa espírito de Unidade em colaboração com mentes criadoras de tudo o que for belo, bom, harmônico para nosso planeta.

Fernanda Paz

Deixe um comentário